4 de abril de 2013

Quem explorou Portugal ?

D. João e a corte portuguesa embarcando para o Brasil 
para fugir da invasão pela França de Napoleão

É muito comum encontrarmos textos sobre história, tanto em sala de aula como na Internet, dizendo o seguinte:

"Como qualquer aluno de história sabe, o ouro brasileiro não ficava com os portugueses. Ia para a Inglaterra que, através do Tratado de panos e vinhos Methuen, drenava o ouro brasileiro para sua economia em franca expansão."

"Com isso, os portugueses financiaram a indústria inglesa e alias bem mais tarde também ajudaram a salvar a Inglaterra do Bloqueio Continental imposto por Napoleão em 1815.
E o ouro? Simples, o ouro extraído de Minas Gerais foi justamente para pagar essa diferença na balança comercial.
Afinal, precisa-se mais de roupas do que vinho 
!"

Essa alegação nunca apresenta provas e possuem uma visão ideológica de história.
A história real dos acontecimentos é muito diferente dessas acusações contra a Inglaterra.

Vamos ver o conteúdo do Tratado, e nele vamos verificar que nada existe do que foi dito, o tratado é recíproco e se enquadrava nos interesses de Portugal em vender o seu vinho aos ingleses, e como Portugal tinha que comprar de alguém os panos, pois não os fabricava, se comprometia a comprar da Inglaterra, desde que a Inglaterra também se comprometesse a comprar vinhos de Portugal !
Nada mais que troca de mercadorias, Portugal mandava X de vinhos para a Inglaterra e recebia X de panos em troca.

O Tratado de Methuen (Tratado dos Panos e Vinhos), foi assinado entre a Inglaterra e Portugal, em 27 de dezembro de 1703.
Os negociadores foram o embaixador britânico John Methuen e D. Manuel Teles da Silva, marquês de Alegrete
.


Vejamos o que constava nesse tratado:

"Artigo I - Sua Sagrada-Majestade ElRei de Portugal promete, tanto em seu próprio Nome, como no de Seus Sucessores, admitir para sempre, de aqui em diante, no Reino de Portugal os panos de lã e mais fábricas de lanifício de Inglaterra, como era costume até o tempo em que foram proibidos pelas leis, não obstante qualquer condição em contrário.
Artigo II - É estipulado que Sua Sagrada e Real Majestade Britânica, em Seu Próprio Nome, e no de Seus Sucessores, será obrigada para sempre, de aqui em diante, de admitir na Grã-Bretanha os vinhos do produto de Portugal, de sorte que em tempo algum (haja paz ou guerra entre os Reinos de Inglaterra e de França) não se poderá exigir direitos de Alfândega nestes vinhos, ou debaixo de qualquer outro título direta ou indiretamente, ou sejam transportados para a Inglaterra em pipas, tonéis ou qualquer outra vasilha que seja, mais que o que se costuma pedir para igual quantidade ou medida de vinho de França, diminuindo ou abatendo uma terça parte do direito do costume.
Artigo III - Os Exmos. Senhores Plenipotenciários prometem e tomam sobre si, que Seus Amos acima mencionados ratificarão este tratado, e que dentro do termo de dois meses se passarão as ratificações
."

Como vemos, nada de anormal ou desfavorável a Portugal existe nesse tratado.

Podemos encontrar também avaliações feitas em livros, que dizem que "o Tratado de Methuen provocou a destruição do processo de industrialização português (os têxteis) e que, se existisse, poderia evitar o atraso tecnológico que caracterizou Portugal até a atualidade".
Isto não é verdade, Portugal não se preocupava em sair da forma medieval em que vivia.
O homem português tinha raízes no campo e a sua realeza era passiva e apenas gostava de viver em luxo extremo, sem se preocupar em produzir e trabalhar para construir um novo país.
Para a suntuosa corte portuguesa era muito mais cômodo comprar os produtos que precisava do que trabalhar para fabricá-los !
A enorme realeza portuguesa (cerca de 30000 pessoas), para manter seu luxo, não comprava apenas da Inglaterra, comprava também da Itália, da França, da Holanda, da Alemanha, dos países escandinavos, da Espanha e de muitos outros fornecedores.
E para pagar tais luxos, não precisava trabalhar, usava o ouro do Brasil.
Devido a esse fato, não é verdade dizer que o ouro do Brasil foi todo para a Inglaterra, não foi, foi também para muitos outros países de quem Portugal comprava mercadorias.

Alem de que, o ouro que era extraído no Brasil, não ia todo para a coroa portuguesa, apenas 20% (Quinto) ia para Portugal, isso do que era oficial, porque a maior parte do ouro extraído no Brasil ficava por aqui mesmo por baixos dos panos. 

A Inglaterra nunca deixou de ser o maior comprador de produtos portugueses, a Inglaterra não comprava apenas vinhos de Portugal, comprava também azeite, couros, diamantes, pau-brasil, cortiça, sal e frutas diversas.

O atraso tecnológico de Portugal, se deve a acomodação da elite portuguesa, alias, isto é uma coisa conhecida no comportamento humano, normalmente aqueles que tem tudo de mão beijada se acomodam.
Portugal não criou universidades na área de tecnologia que pudessem lhe dar apoio na área industrial..

Alem de que, no Tratado, não existia nenhuma cláusula que decretasse que Portugal não poderia desenvolver sua industria têxtil ... Portugal não desenvolveu porque não quis, por comodidade ou porque não teve capacidade para isso.

CORTE PORTUGUESA


Portugal também demonstrou ao longo da história a mesma passividade na administração de suas colônias, Portugal nunca se preocupou em desenvolver as suas colônias de forma ordenada e com planejamento para o futuro como a Inglaterra fez, Portugal se preocupava apenas com imediatismo que lhe desse dinheiro para sustentar as necessidades de momento e a suntuosa corte portuguesa.
Com essa atitude, na entrada da Idade Contemporânea (século XIX), com a independência das colônias, Portugal se viu sem a fonte de sua riqueza, e com isso, se tornou uma nação pobre, alem disso, outros fatores decisivos contribuíram para uma total desmoralização e pobreza da nação portuguesa, como veremos mais a frente.


Sobre ouro.
A Inglaterra tinha colônias prósperas que também tinham ouro e outras riquesas minerais, tinha a colônia que em breve iria se tornar a maior nação do mundo, o EUA, e que com certeza forneceu a Inglaterra muitas riquezas, tinha a colônia do Canadá e da Austrália onde aconteceram diversos ciclos de extração e mineração de ouro e prata. 
A Inglaterra tinha colônia na Ásia e as colônias inglesas nas Antilhas já produziam produtos agrícolas em larga escala, já produziam açúcar em grande quantidade e em menor custo do que o produzindo no Brasil.
Alem disso, a Inglaterra já era o maior país da Europa e exercia sua influência e supremacia não só na Europa como no mundo todo.

A Revolução Industrial inglesa foi possível devido ao trabalho a e genialidade do povo inglês, que muito antes do Tratado de Methuen já havia produzido um dos maiores cientistas da humanidade, Issac Newton, que em 1687 fez a Lei da Gravitação Universal !
A Inglaterra teve a felicidade (e capacidade) de fazer florescer em suas terras William Shakespeare (1564-1616) !
Como será que a Inglaterra conseguiu produzir tais pessoas geniais, se ainda não tinha o ouro do Brasil ?!
A essa pergunta não obtemos resposta dos que fazem acusações contra ela.

A Revolução Industrial inglesa foi possível devido a Inglaterra ter originado, nos séculos XVII, XIII e XIX, cientistas de primeira linha como William Gilbert (magnetismo e eletricidade), William Oughtred (régua de cálculo), Robert Boyle (um dos maiores cientistas da humanidade), James Puckle (metralhadora) Stephen Gray (eletricidade, fio elétrico), Joseph Black (calorimetria), James Hargreaves (máquina de fiar), Richard Arkwright (máquina de tecer), James Watt (máquina a vapor), Henry Cavendish (gases, mecânica e eletricidade), Richard Trevithick (motor de alta pressão), etc.
A Revolução Industrial inglesa foi possível devido a Inglaterra ter gerado filósofos como Francis Bacon (1561-1626), Hobbes (1588-1679), John Locke (1632-1704), George Berkeley (1685-1753), David Hume (1711-1776) e Adam Smith (1723-1790).

Portugal, apesar de por séculos ter captado riquezas de suas colônias, não teve a capacidade de gerar tais cientistas e filósofos.

A mesma coisa aconteceu com a Espanha !
Os espanhóis pegaram as enormes riquezas em ouro e prata dos impérios inca e asteca e levaram para a Espanha, entretanto, apesar dessa enorme riqueza, muito maior que o "ouro do Brasil", a Espanha jamais teve competência para fazer uma Revolução Industrial como a Inglaterra fez !

No mundo atual existem exemplos semelhantes... a Arábia Saudita, apesar de possuir a maior riqueza do mundo atual, o petróleo, apenas o usa para manter o luxo de sua corte e compra tudo que precisa de outros países, sem se preocupar em criar dentro de seu próprio país uma infra-estrutura que possa no futuro, quando o petróleo acabar, dar condições ao país de se manter de outras formas.


Outros fatos históricos.


Portugal sempre foi uma nação fraca militarmente.
Não existe na história portuguesa grandes acontecimentos militares, grandes batalhas, grandes heróis.
Portugal por toda a sua história sempre esteve ameaçado pelo seu grande inimigo, a Espanha, e também por outro inimigo que sempre cobiçou e invadiu as colônias portuguesas, a França.
Estes dois países, Espanha e França, também foram sempre inimigos da Inglaterra.
A amizade entre Portugal e Inglaterra vem da necessidade comum de enfrentar estes dois poderosos inimigos.

Os ingleses, ao contrário dos portugueses, já desde o Império Romano com os celtas, anglos e saxões, sempre foram guerreiros e ao longo da história sempre travaram grandes batalhas, contra seus inimigos franceses e espanhóis.
Portugal, por causa de sua fraqueza militar, sempre contou com a Inglaterra para a sua defesa.

Já em 1373, a Inglaterra fez aliança militar com Portugal para ajudar os portugueses na sua luta contra Castela (parte da Espanha), que ameaçava a independência do reino português.
A Inglaterra também ajudou Portugal na luta contra os mouros (árabes) que ocupavam a séculos a Península Ibérica.

A Inglaterra ao longo da história foi sempre um país amigo de Portugal, não usou da força militar para submeter os portugueses.
A Inglaterra, devido a sua competência administrativa, comercial e científica, sempre exerceu supremacia comercial, a partir do século XVII, por todo o mundo, e Portugal foi apenas mais um país que tinha na Inglaterra, alem de um país amigo, o maior parceiro comercial.


A Espanha foi dona da coroa portuguesa por 60 anos

Quem usou de força contra Portugal foi a Espanha, Felipe II da Espanha em 1580 anexou Portugal à Espanha e o submeteu a força a coroa espanhola.
Por 60 anos, até 1640, Portugal não foi um país livre, e com certeza durante estes 60 anos a Espanha explorou a nação portuguesa e a sua principal colônia, o Brasil. 
Então, muito do "ouro do Brasil" foi para a Espanha nesses 60 anos..

A coroa portuguesa, desde 1532, cobrava um tributo chamado de "Quinto", que correspondia a 20% de toda riqueza encontrada no Brasil, em especial ouro e prata, quando da anexação de Portugal pela Espanha, o rei espanhol Felipe II criou o título de "Marques das Minas" para todo aquele que descobrisse ouro no Brasil.
Em 1598, foi descoberto ouro na capitania de São Vicente, 20% de todo o ouro das minas de Araçoiaba, Bitiruna, Jaraguá e Monserrate foi para a Espanha, e neste caso, não foram dados panos em troca !

Nesta mesma época os bandeirantes paulistas descobriram ouro e pedras preciosas em muitos locais do Brasil, e os 20% dos "quintos dos infernos" foram para a Espanha e não para Portugal.
Desta forma, quem extorquiu o ouro do Brasil por 60 anos foi a Espanha e nada deu em troca.



A invasão e ocupação de Portugal pela França.


INVASÕES DE PORTUGAL FEITAS PELA FRANÇA

Outro fato histórico que não é mencionado é que o golpe final no Império Português foi dado pela França de Napoleão.
O já combalido Reino de Portugal foi invadido e ocupado pela França em 1807, e por 5 anos a França de Napoleão foi dona de Portugal.
José Bonaparte, irmão de Napoleão, 
rei de Portugal e Espanha durante a ocupação francesa

Quando da subida ao poder de Napoleão na França em 1799 a Espanha se aliou a França na intenção mútua de derrotar a Inglaterra, e para tanto, tencionavam submeter Portugal e obrigar Portugal a participar do "bloqueio continental" contra a Inglaterra ... Portugal apesar de inicialmente dizer que concordava, na verdade, nunca concordou em se aliar com a França, o que fez a França e a Espanha se voltarem militarmente contra ele e concentrar tropas para invadir Portugal em 1807.
França e Espanha tencionavam repartir Portugal entre si da seguinte forma:
- Lusitânia Setentrional, que faria reviver o Reino da Etrúria para a Espanha.
- Algarves, que iria pertencer ao espanhol Manuel de Godoy.
- O resto de Portugal, iria pertencer a França.


TRATADO ENTRE ESPANHA E FRANÇA PARA TOMAREM POSSE DE PORTUGAL

Na eminência da invasão o príncipe regente de Portugal, D. João VI, toda a família real, e grande parte da corte portuguesa, cerca de 15 mil pessoas, fugiram para o Brasil em 27 de novembro de 1807.
As tropas francesas entraram na Espanha em 18 de Outubro de 1807 e invadiram Portugal em 20 de Novembro, tomaram Lisboa em 30 de Novembro.

A Espanha provou do próprio veneno, foi invadida e tomada pela França em seguida !
E José Bonaparte é empossado como rei da Espanha e Portugal !

Em agosto de 1808 tropas inglesas desembarcam em Portugal para ajudar os portugueses na luta contra a ocupação francesa, as forças eram de 14 mil ingleses e 6 mil portugueses.
Os ingleses não ajudaram apenas Portugal, ajudaram também aos espanhóis !

As forças inglesas, portuguesas e espanholas passaram ao ataque a partir de agosto de 1813 e invadiram o território francês, Napoleão foi expulso de Portugal e Espanha definitivamente em Toulouse em 10 de abril de 1814.
A Inglaterra iria derrotar definitivamente a França de Napoleão no ano seguinte na Batalha de Waterloo.

A corte de D. João VI voltou para Portugal em 1821, mas, depois desta degradante ocupação do país pela França, que nos 5 anos que ficou soberana em Portugal fez o que quis, após essa ocupação francesa Portugal era um país arruinado, nos anos seguintes aconteceram revoltas e pilhagens que mantiveram Portugal na pobreza.

Conclusão

Diante da verdadeira história as acusações contra a Inglaterra são desmentidas, as nações que realmente exploraram Portugal foram a Espanha e a França.
A Inglaterra sempre se manteve amiga de Portugal e sua supremacia foi exercida de forma pacífica, através da sua competência industrial e comercial.


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