15 de abril de 2017

Por que os intelectuais odeiam a democracia representativa de livre mercado por eles denominada por "capitalismo" ?

Trecho do artigo de Robert Nozick em
"Por que os intelectuais se opõem ao capitalismo?"

"Por que os intelectuais que lidam com as palavras pensam que são valiosíssimos, e por que pensam que a distribuição deve se fazer de acordo com o seu valor?
Observe-se que este último não é um princípio necessário.
Foram propostos outros modelos de distribuição, incluindo a distribuição paritária, a distribuição segundo o mérito moral, a distribuição segundo a necessidade.
De fato, não é necessário que haja modelo algum de distribuição que a sociedade esteja tratando de alcançar, inclusive uma sociedade preocupada com a justiça.
A equanimidade de uma distribuição pode resistir em sua proposição a partir de um processo justo de intercâmbio voluntário de propriedade e serviços legitimamente adquiridos. Qualquer resultado que se produza nesse processo será então justo, mas não existe um modelo concreto a que se deva ajustar o resultado.
Por que então os forjadores de palavras se consideram valiosíssimos e aceitam o principio de distribuição segundo o valor?
Desde o começo do pensamento documentado os intelectuais nos disseram que sua atividade é valiosíssima. Platão valorizava a faculdade racional acima do valor e dos apetites, e considerava que os filósofos deveriam governar; Aristóteles sustentava que a contemplação intelectual é a atividade suprema.
Não é surpreendente que os textos que chegaram até nós registrem essa alta valoração da atividade intelectual. As pessoas que expressaram valorações, que as escreveram com razões para apoiá-las, eram intelectuais acima de tudo.

Eles se engrandecem a si mesmos.

Os que davam mais valor a coisas diferentes da meditação sobre as coisas usando palavras, fosse a caça ou o poder, ou o prazer sensual ininterrupto, não se preocupavam em deixar informes escritos duradouros.
Só os intelectuais elaboraram uma teoria sobre quem era melhor.

Que fator provocou a sensação, por parte dos intelectuais, de que tinham um valor superior?
Vou me concentrar em uma instituição concreta: as escolas.
À medida que o conhecimento livresco se tornou cada vez mais importante, ampliou-se a escolarização – ensinar aos jovens a ler e a familiarizar-se com os livros. As escolas se converteram na principal instituição, a fora a família, para forjar as atitudes dos jovens, e quase todos que mais tarde se converteram em intelectuais passaram por uma escola.
Ali venceram.
Eram julgados acima dos outros, e se consideravam superiores a eles. (!)
Eram engrandecidos e premiados, eram os favoritos dos professores.
Como poderiam deixar de se sentir superiores?
Diariamente experimentavam diferenças na facilidade para as ideias, para o engenho.
As escolas lhes diziam e lhes demonstravam que eram os melhores.

As escolas também exibiam e, portanto, ensinavam o princípio da recompensa de acordo com o mérito (intelectual).
Ao intelectualmente meritório se dirigiam os elogios, os sorrisos dos professores e as notas mais altas.
Na moeda que ofereciam nas escolas, os mais inteligentes constituíam a classe alta. Ainda que não fizesse parte dos currículos oficiais, nas escolas os intelectuais aprendiam as lições sobre seu próprio valor, superior em comparação com os demais, e de como esse valor superior lhes dava direito a maiores recompensas.

A mais ampla sociedade de mercado, todavia, ensinava uma lição diferente.
Ali as principais recompensas não eram para os mais brilhantes verbalmente.
Ali não se concedia o maior valor às habilidades intelectuais.
Instruídos na lição de que eles eram os mais valiosos, os que mais mereciam a recompensa, os que tinham maiores direitos à recompensa, como podiam os intelectuais, em geral, deixar de ficar ressentidos com a sociedade capitalista que os privava das justas retribuições a que sua superioridade lhes “dava direito”?
É de surpreender, então, que os sentimentos dos intelectuais instruídos, com relação à sociedade capitalista, sejam uma profunda e sombria ojeriza que, embora revestida de diversas razões publicamente apropriadas, continuava inclusive quando se demonstrava que essas razões particulares eram inadequadas?

Ao afirmar que os intelectuais consideram ter direito às mais altas recompensas que a sociedade em seu conjunto pode oferecer (riqueza, status, etc.), não quero dizer que os intelectuais considerem essas recompensas como os bens mais preciosos.
Talvez eles valorizem mais as recompensas intrínsecas da atividade intelectual ou o fato de entrar para a história.
No entanto, também se sentem com direito à mais alta consideração por parte da sociedade em geral, ao máximo e melhor que se possa oferecer, por insignificante que resulte.
Não pretendo conceder relevância especial às recompensas que abrem caminho até os bolsos dos intelectuais ou que afetem a suas próprias pessoas. Ao identificar a si próprios como intelectuais, podem sentir-se incomodados pelo fato de que a atividade intelectual não seja a mais valorizada e recompensada.

O intelectual quer que a totalidade da sociedade seja uma extensão da escola, para que seja como o entorno que lhe foi tão bom e onde ele foi tão apreciado.
Ao incorporar critérios de recompensa que são diferentes dos próprios da sociedade global, as escolas garantem que alguns venham a experimentar posteriormente uma queda na escala social.
Os que estão na ponta mais alta da hierarquia escolar se considerarão com direito a uma posição de primeira, não só naquela micros sociedade, mas na mais ampla, uma sociedade cujo sistema os incomodará quando não os tratar de acordo com suas necessidades e direitos auto-adjudicados.
O sistema escolar cria, portanto, um sentimento anticapitalista entre os intelectuais.
Mais precisamente, cria um sentimento anticapitalista entre os intelectuais da palavra.
Por que não desenvolvem os forjadores de números as mesmas atitudes que esses forjadores de palavras?
Presumo que essas crianças brilhantes com as contas, ainda que consigam boas notas nos exames correspondentes, não recebem dos professores a mesma atenção e aprovação pessoal que as crianças brilhantes com as palavras.
São as destrezas verbais as que acarretam essas recompensas pessoas por parte dos professores, e, aparentemente, não essas recompensas específicas que dão forma a esse sentimento de ter direito a algo."



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