Arqueólogos encontram vestígios de 'chacina neolítica' na Alemanha
RICARDO MIOTO
EDITOR-ADJUNTO DE "COTIDIANO"
http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2015/08/1671570-arqueologos-encontram-vestigios-de-chacina-neolitica-na-alemanha.shtml?cmpid=compfb
Trecho:
"Se os arqueólogos estiverem certos, há impactos na história e até na filosofia.
No primeiro caso, seria errado o senso comum de que o mundo nunca foi tão violento.
Mesmo com guerras mundiais e bombas atômicas, a taxa de homicídios seria bem mais elevada em sociedades tribais –pense que, se dez pessoas são mortas em um grupo de 50, proporcionalmente é como se 40 milhões de brasileiros morressem de uma vez.
Na filosofia, estaria errada a ideia de Rousseau (1712 - 1778) de que o homem é naturalmente bom, mas acaba degenerado pela sociedade.
"O conceito de bom selvagem não é científico", diz Meyer à Folha. "Temos firme evidência de que a violência sempre foi parte do repertório humano."
Chacina Neolítica
Também argumentam nessa linha pesquisadores como Napoleon Chagnon (autor de "Nobres Selvagens", publicado neste ano pela Três Estrelas) e Steven Pinker ("Os Anjos Bons da Nossa Natureza", Companhia das Letras, 2013).
Arqueólogos vivem encontrando, entre resquícios de povos primitivos, armas como porretes, pouco úteis para a caça, mas muito adequados para bater no outros.
"Por décadas, 'antropólogos da paz' negaram que humanos já tivessem sido canibais, mas indícios em contrário se acumulam", escreve Pinker, citando proteína humana encontrada em cacos de panela. "Condenação certa."
Desse ponto de vista, a pergunta não é o que leva as pessoas a atacarem as outras –ficam assim absolvidas a televisão, os jogos violentos, a decadência moral, a sociedade opressora.
A questão é o que faz com que as pessoas não se agridam. Afinal, de alguma forma os terríveis vikings acabaram dando nos bonzinhos dinamarqueses e suecos.
Pinker sugere que a resposta passa pela maior quantidade de redes de reciprocidade, como o comércio, que tornam os outros humanos mais úteis vivos do que mortos –ou seja, não há mudança "moral", mas de interesses.
Ele cita ainda que, em uma sociedade sofisticada, a violência é menos eficiente. Se mato meu colega de trabalho, não fico com seu dinheiro, sua casa nem sua mulher –e ainda vou perder o emprego e provavelmente ser preso.
Ser preso: "Quando eu era adolescente no pacífico Canadá, nos românticos anos 1960, ridicularizava a ideia dos meus pais de que o caos ocorreria se o governo abrisse mão das armas", escreve Pinker.
"Mas, quando a polícia de Montreal entrou em greve em 17 de outubro de 1969, já de manhã um banco foi roubado, ao meio-dia as lojas fecharam por causa de saques e taxistas incendiaram uma locadora de limusines que competia com eles no aeroporto. Tiveram de chamar o Exército."
O psicólogo cita Winston Churchill, que sucedeu a Neville Chamberlain, pacifista primeiro-ministro britânico que fez concessões a Hitler: "A história humana é a guerra. Exceto por breves e precários intervalos, nunca houve paz; bem antes de a história começar, o conflito assassino era universal e interminável".
EDITOR-ADJUNTO DE "COTIDIANO"
http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2015/08/1671570-arqueologos-encontram-vestigios-de-chacina-neolitica-na-alemanha.shtml?cmpid=compfb
Trecho:
"Se os arqueólogos estiverem certos, há impactos na história e até na filosofia.
No primeiro caso, seria errado o senso comum de que o mundo nunca foi tão violento.
Mesmo com guerras mundiais e bombas atômicas, a taxa de homicídios seria bem mais elevada em sociedades tribais –pense que, se dez pessoas são mortas em um grupo de 50, proporcionalmente é como se 40 milhões de brasileiros morressem de uma vez.
Na filosofia, estaria errada a ideia de Rousseau (1712 - 1778) de que o homem é naturalmente bom, mas acaba degenerado pela sociedade.
"O conceito de bom selvagem não é científico", diz Meyer à Folha. "Temos firme evidência de que a violência sempre foi parte do repertório humano."
Chacina Neolítica
Também argumentam nessa linha pesquisadores como Napoleon Chagnon (autor de "Nobres Selvagens", publicado neste ano pela Três Estrelas) e Steven Pinker ("Os Anjos Bons da Nossa Natureza", Companhia das Letras, 2013).
Arqueólogos vivem encontrando, entre resquícios de povos primitivos, armas como porretes, pouco úteis para a caça, mas muito adequados para bater no outros.
"Por décadas, 'antropólogos da paz' negaram que humanos já tivessem sido canibais, mas indícios em contrário se acumulam", escreve Pinker, citando proteína humana encontrada em cacos de panela. "Condenação certa."
Desse ponto de vista, a pergunta não é o que leva as pessoas a atacarem as outras –ficam assim absolvidas a televisão, os jogos violentos, a decadência moral, a sociedade opressora.
A questão é o que faz com que as pessoas não se agridam. Afinal, de alguma forma os terríveis vikings acabaram dando nos bonzinhos dinamarqueses e suecos.
Pinker sugere que a resposta passa pela maior quantidade de redes de reciprocidade, como o comércio, que tornam os outros humanos mais úteis vivos do que mortos –ou seja, não há mudança "moral", mas de interesses.
Ele cita ainda que, em uma sociedade sofisticada, a violência é menos eficiente. Se mato meu colega de trabalho, não fico com seu dinheiro, sua casa nem sua mulher –e ainda vou perder o emprego e provavelmente ser preso.
Ser preso: "Quando eu era adolescente no pacífico Canadá, nos românticos anos 1960, ridicularizava a ideia dos meus pais de que o caos ocorreria se o governo abrisse mão das armas", escreve Pinker.
"Mas, quando a polícia de Montreal entrou em greve em 17 de outubro de 1969, já de manhã um banco foi roubado, ao meio-dia as lojas fecharam por causa de saques e taxistas incendiaram uma locadora de limusines que competia com eles no aeroporto. Tiveram de chamar o Exército."
O psicólogo cita Winston Churchill, que sucedeu a Neville Chamberlain, pacifista primeiro-ministro britânico que fez concessões a Hitler: "A história humana é a guerra. Exceto por breves e precários intervalos, nunca houve paz; bem antes de a história começar, o conflito assassino era universal e interminável".
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