15 de agosto de 2013

Qual a diferença entre socialismo e comunismo ?

Qual a diferença entre socialismo e comunismo ?

Uma coisa podemos dizer inicialmente - não são a mesma coisa.

Karl Marx no Manifesto Comunista enumerou os seguintes tipos de socialismos:

1. Socialismo Reacionário.
1.1 Socialismo Feudalístico.
1,2 Socialismo Pequeno-Burguês.
1.3 Socialismo Alemão ou "Verdadeiro".
2. Socialismo Conservador ou Burguês.
3. Socialismo Utópico.

Todas essas designações são de Marx, evidentemente os que pertenciam a tais grupos não se designavam dessa forma, com exceção dos "utópicos" os demais nem mesmo em algum momento se designaram como sendo socialistas, Marx é que os está designando como sendo socialistas.

O socialismo marxista foi denominado por Engels como sendo o "socialismo científico".

Karl Marx nunca disse que sua pregação revolucionária se chamava socialismo científico, o nome "socialismo científico" foi dado por Engels, depois da morte de Marx, ao que Marx e ele disseram anteriormente durante suas vidas.

Como o marxismo eliminou todas as outras tendências socialistas vamos considerar como "socialismo" o socialismo marxista.

O socialismo marxista tinha como orientação a luta revolucionária.
Essa luta significava unicamente chegar a "revolução do proletariado" e com ela tomar o poder político pela via violenta revolucionária.
No Manifesto Marx escreveu:

"A luta do proletariado contra a burguesia embora não seja na essência uma luta nacional, reveste-se contudo dessa forma nos primeiros tempos.
E natural que o proletariado de cada pais deva, antes de tudo, liquidar sua própria burguesia."

Ou seja, liquidar a burguesia e tomar o poder político.

Sobre como seria após a tomada do poder, no mesmo Manifesto Comunista, Marx diz o seguinte:

"O proletariado utilizará sua supremacia política para arrancar pouco a pouco todo capital à burguesia, para centralizar todos os instrumentos de produção nas mãos do Estado, isto é, do proletariado organizado em classe dominante e para aumentar, o mais rapidamente possível, o total das forças produtivas.
Isto naturalmente só poderá realizar-se, em princípio, por uma violação despótica do direito de propriedade e das relações de produção burguesas, isto é, pela aplicação de medidas que, do ponto de vista econômico, parecerão insuficientes e insustentáveis, mas que no desenrolar do movimento ultrapassarão a si mesmas e serão indispensáveis para transformar radicalmente todo o modo de produção.
Essas medidas, é claro, serão diferentes nos vários países.
Todavia, nos países mais adiantados, as seguintes medidas poderão geralmente ser postas:

1. Expropriação da propriedade latifundiária e emprego da renda da terra em proveito do Estado;
2. Imposto fortemente progressivo
3. Abolição do direito de herança;
4. Confiscação da propriedade de todos os emigrados e sediciosos;
5. Centralização do crédito nas mãos do Estado por meio de um banco nacional com capital do Estado e com o monopólio exclusivo;
6. Centralizarão, nas mãos do Estado, de todos os meios de transporte;
7. Multiplicação das fábricas e dos instrumentos de produção pertencentes ao Estado, arroteamento das terras incultas e melhoramento das terras cultivadas, segundo um plano geral;
8. Trabalho obrigatório para todos, organização de exércitos industriais, particularmente para a agricultura;
9. Combinação do trabalho agrícola e industrial, medidas tendentes a fazer desaparecer gradualmente a distinção entre a cidade e o campo;
l0. Educação pública e gratuita de todas as crianças, abolição do trabalho das crianças nas fábricas, tal como é praticado hoje. Combinação da educação com a produção material etc."

Então, segundo Marx, eram as medidas acima relacionadas que deveriam ser executadas de forma despótica após a tomada do poder pela 'revolução do proletariado" no chamado "período de transformação" revolucionério.

Em seguida Karl Marx enuncia (no Manifesto) o que surgiria depois da aplicação das medidas descritas acima:

"Uma vez desaparecidos os antagonismos de classes no curso do desenvolvimento e sendo concentrada toda a produção propriamente falando nas mãos dos indivíduos associados, o poder público perderá seu caráter político.
O poder político é o poder organizado de uma classe para a opressão de outra.
Se o proletariado, em sua luta contra a burguesia, se constitui forçosamente em classe; se converte-se, por uma revolução, em classe dominante e, como classe dominante, destrói violentamente as antigas relações de produção, destrói juntamente com essas relações de produção, as condições dos antagonismos entre as classes e as classes em geral e, com isso, sua própria dominação como classe.
Em lugar da antiga sociedade burguesa, com suas classes e antagonismos de classes, surge uma associação onde o livre desenvolvimento de cada um é a condição do livre desenvolvimento de todos."

Ou seja, Karl Marx fornece uma "visão" do comunismo.
Porém, essa previsão marxista jamais aconteceu em nação alguma das dezenas que implantaram o marxismo no século XX.

Outra passagem importante no Manifesto, decisiva para entender todo o contexto, é a que aparece na Parte II:

"Seção II - Proletários e comunistas 
Em que relação se encontram os comunistas com os proletários em geral?
Os comunistas não são nenhum partido particular face aos outros partidos operários.
Não têm nenhum interesses separados dos interesses do proletariado todo.
Não estabelecem nenhum princípios particulares (1*) segundo os quais queiram moldar o movimento proletário.

Os comunistas diferenciam-se dos demais partidos proletários apenas pelo fato de que, por um lado, nas diversas lutas nacionais dos proletários eles [os comunistas] acentuam e fazem valer os interesses comuns, independentes da nacionalidade, do proletariado todo, e pelo fato de que, por outro lado, nos diversos estádios de desenvolvimento por que a luta entre o proletariado e a burguesia passa, representam sempre o interesse do movimento total.
Os comunistas são, pois, na prática, o setor mais decidido, sempre impulsionador, dos partidos operários de todos os países; na teoria, eles têm, sobre a restante massa do proletariado, a vantagem da inteligência das condições, do curso e dos resultados gerais do movimento proletário."


Vemos ai que "comunistas" e "proletários" são coisas diferentes para Karl Marx.
Comunistas tem caráter global, apenas eles tem inteligência para impulsionar os proletários de cada país.
Na prática isso significa o seguinte:
Proletários - os trabalhadores operários.
Comunistas - os "intelectuais" marxistas
.


Nota.


No Prefácio da edição alemã de 1872 do Manifesto Marx escreveu:

"Embora as condições muito se tenham alterado nos últimos vinte e cinco anos, os princípios gerais desenvolvidos neste Manifesto conservam, grosso modo, ainda hoje a sua plena correção."
"Aqui e ali seria de melhorar um pormenor ou outro
A aplicação prática destes princípios — o próprio Manifesto o declara — dependerá sempre e em toda a parte das circunstâncias historicamente existentes, e por isso não se atribui de modo nenhum qualquer peso particular às medidas revolucionárias propostas no fim da seção II. 
Este passo teria sido hoje, em alguns aspectos, redigido de modo diferente.
Face ao imenso desenvolvimento da grande indústria nos últimos vinte e cinco anos e, com ele, ao progresso da organização do partido da classe operária, face às experiências práticas, primeiro da revolução de Fevereiro, e muito mais ainda da Comuna de Paris — na qual pela primeira vez o proletariado deteve o poder político durante dois meses —, este programa está hoje, num passo ou noutro, antiquado."
"Entretanto, o Manifesto é um documento histórico, que já não nos arrogamos o direito de alterar."


Ou seja, Marx diz que "Aqui e ali seria de melhorar um pormenor ou outro", mas que ele, não iria mudar em nada o Manifesto pois ele continuava plenamente correto.


O Manifesto foi escrito em 1848, passados 27 anos Marx escreveu o seguinte sobre o mesmo assunto:

Crítica ao Programa de Gotha.
Comentários marginais.

"A "sociedade atual" é a sociedade capitalista que existe em todos os países civilizados, mais ou menos expurgada de elementos medievais, mais ou menos modificada pela evolução histórica particular de cada pais, mais ou menos desenvolvida.
O "Estado atual", pelo contrário, muda com a fronteira.
É diferente no Império prussiano-alemão e na Suíça, na Inglaterra e nos Estados Unidos.
O "Estado atual" é pois uma ficção.
.....
Então surge a pergunta:
que transformação sofrerá o Estado numa sociedade comunista?
Por outras palavras:
que funções sociais análogas às atuais funções do Estado subsistirão ?
Só a ciência pode responder a esta pergunta;
Entre a sociedade capitalista e a sociedade comunista situa-se o período de transformação revolucionária de uma na outra, a que corresponde um período de transição política em que o Estado não poderá ser outra coisa que não a ditadura revolucionária do proletariado."
Karl Marx, 1875.

Com esse texto, chegamos a conclusão, que no final de sua vida, Marx não sabia como seria o comunismo, isso, como ele escreveu, era tarefa da ciência descobrir.
Marx só sabia que no "período de transformação" o que existiria seria a ditadura revolucionária do proletariado !

Desta forma, o que seria comunismo como sociedade ninguém sabe, ninguém fez uma teoria que descrevesse como seria a sociedade comunista.

Com base nisso, em termos teóricos, podemos dizer quais são as diferenças entre socialismo e comunismo.

Fontes:
Manifesto comunista
http://www.nossaescola.com/acervop.php?idpesq=183
Crítica ao Programa de Gotha
https://www.marxists.org/portugues/marx/1875/gotha/gotha.htm

Obs. Os textos que apresentei são de exempleres que possuo, com traduções antigas, atualmente as traduções digitais online vem sendo sistematicamente mudadas, tudo que não é politicamente correto no texto marxista está sendo substituido por uma nova versão politicamente correta.
Por exemplo, o texto citado por mim "liquidar a sua própria burguesia" está sendo substituido por "terá que se acertar com sua própria burgiesia".


Conclusão

Socialismo é um "período de transformação" após a derrubada da "burguesia" pela "revolução do proletariado", onde o estado socialista, de acordo com as orientações de Karl Marx no Manifesto, centraliza todas as atividades políticas e econômicas com os proletários no poder guiados pelos "intelectuais" marxistas.
Portanto, o socialismo é um "período de transição" revolucionária que levaria ao estabelecimento de uma sociedade comunista.

Comunismo seria uma sociedade sem estado e sem classes onde o livre desenvolvimento de cada um seria a condição de livre desenvolvimento de todos.


***


No século XX existiram 50 nações que em algum momento de suas histórias adotaram o socialismo científico marxista, ao todo foram 2,2 bilhões de pessoas vivendo sob o socialismo.
Dentre elas, além da URSS que continha diversas nações da Europa Oriental e Ásia, além da China, Camboja, Vietnã, Coreia do Norte, etc, também foram socialista/marxistas nações desenvolvidas da Europa como Alemanha Oriental, Hungria, Polônia, Rep. Checa, Eslováquia, Bulgária, Iugoslávia que era composta por diversas nações dentre elas Servia e Macedônia.
Todas essas nações foram estruturadas e comandadas por socialistas marxistas, como Lenin, Stalin, Kruchev, Mao, Ho Chi Minh e Che Guevara, todos eles eram profundos conhecedores do socialismo e do marxismo.
Em todas essas nações depois da tomada do poder os socialistas adotaram as medidas centralizadoras no estado socialista indicadas por Karl Marx no Manifesto Comunistas e deram início ao "período de transformação" para chegarem ao comunismo.

Porém, nenhuma dessas 50 nações chegou ao comunismo, todas continuaram por muitos anos na "ditadura do proletariado", não tiveram desenvolvimento, foram ficando pobres, muitos cidadãos começaram a reclamar e foram taxados de "dissidentes", foram presos e milhões foram assassinados dentro de suas próprias nações.

A maior representante do socialismo científico marxista foi a URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas), cuja principal nação foi a Rússia, existiu por 74 anos (1917-1991) e por fim faliu e desapareceu.

As crises do socialismo não são cíclicas, são definitivas.

Atualmente ainda existem 3 nações socialistas, Correia do Norte, Vietnã e Cuba, o socialismo científico marxista existe a 54 anos em Cuba, Che Guevara foi o organizador do estado socialista em Cuba, Che estudou Marx e fez o estado socialista cubano de acordo com as orientações de Marx, centralizou a economia e a política no estado socialista.
O comunismo jamais surgiu em Cuba, até hoje Cuba continua uma ditadura socialista pobre e sem liberdade para seu povo.

A marca do socialismo científico marxista no mundo foi permanecer indefinidamente no "período de transformação" ditatorial sem nunca chegar a prometida sociedade comunista.


***

Nenhum comentário:

Postar um comentário