12 de dezembro de 2015

Uma escrava negra que se tornou uma dama da elite mineira em pleno século XVIII.

Francisca (Chica) da Silva, 1731/32 - 1796.
Uma escrava negra que se tornou uma dama da elite mineira em pleno século XVIII.

A escrava Francisca da Silva nasceu no Arraial do Tijuco, atual cidade mineira de Diamantina, era filha de Antônio Caetano de Sá, homem branco do Rio de Janeiro, ele era capitão das ordenanças de Bocaina, Três Cruzes e Itatiaia, distritos de Vila Rica.

Chica herdou a condição de escrava da sua mãe, Maria da Costa, africana da Costa da Mina, Maria era escrava de Domingos da Costa, um negro que era dono de escravos.

Chica foi registrada no Arraial do Milho Verde, no município de Serro Frio, atual Serro.
Na juventude Chica foi escrava do português Manuel Pires Sardinha, proprietário de lavras no Arraial do Tijuco, teve com ele um filho, Simão Pires Sardinha, nascido em 1751.

Manuel Pires Sardinha deu ao filho a alforria e nomeou-o como um de seus herdeiros.
Simão foi educado em Portugal e ocupou cargos importantes no governo e da Corte.

Quando ainda era escrava Chica era tratada nos documentos como "Francisca mulata" ou "Francisca parda", entretanto, já em 1754 Chica foi identificada em um documento como Francisca da Silva.
O sobrenome Silva era comumente adotado por pessoas sem procedência definida.

Chica da Silva, segundo o primeiro relato histórico dela, não era uma mulher bonita, portanto, não foi a beleza física que a fez se tornar a mulher rica e respeitada que foi.

Em 1754 João Fernandes de Oliveira chegou ao Arraial para assumir o cargo de contratador dos diamantes, cargo que tinha sido de seu pai.
Nesse mesmo ano Chica da Silva foi adquirida como escrava por João Fernandes e passou a viver com ele, apesar de não terem se casado.
Com João Fernandes ela teve treze filhos durante os quinze anos em que com ele viveu.
No nascimento da primeira filha, a mãe foi identificada no registro de batismo como "Francisca da Silva de Oliveira", adotando o sobrenome do seu companheiro.
Todos os filhos de Chica foram registrados no batismo como sendo filhos de João Fernandes.
Entre 1755 e 1770 João Fernandes e Chica da Silva moraram na casa localizada na praça Lobo de Mesquita, número 266, em Diamantina.

 Casa onde Chica da Silva morou em Diamantina

Os dois se separaram em 1770 quando João Fernandes precisou retornar a Portugal para receber a herança deixada por seu pai.
Quando voltou para Portugal João Fernandes levou consigo os seus quatro filhos homens, em Portugal eles receberam educação superior e ocuparam postos importantes na administração do reino.
Chica da Silva ficou no Arraial do Tijuco com as filhas e de posse das propriedades deixadas por João Fernandes.

Suas filhas também receberam excelente educação, foram enviadas para estudar no Recolhimento de Macaúbas em Santa Luzia, de onde saíram em idade de se casar, embora algumas tenham seguido a vida religiosa.

Chica da Silva alcançou prestígio na sociedade local e desfrutou de regalias.

Na época as pessoas participavam de irmandades religiosas de acordo com a sua posição sócio econômica, Chica da Silva pertenceu as Irmandades de São Francisco e do Carmo, normalmente para brancos, porém, participou também das irmandades das Mercês, destinada a mulatos, e do Rosário, destinada aos negros.
Assim, Chica conseguiu ter amizades e convivência com todas as pessoas da cidade.

Porém, logo que foi libertada Chica passou a ser dona de escravos que trabalhavam nas atividades domésticas de sua casa.

Faleceu em 1796 e foi sepultada dentro da igreja de São Francisco de Assis pertencente a mais importante irmandade local, da qual ela participava, então, até o fim de sua vida Chica da Silva manteve o seu prestígio.

Dos seus filhos, João Fernandes de Oliveira Grijó, tornou-se o principal herdeiro do pai; José Agostinho recebeu a patente de capitão de milícias no Tejuco; Simão Pires Sardinha, tornou-se nobre e influente na corte.

A história de Francisca da Silva nos mostra duas coisas:

- que um ser humano, mulher ou homem, por mais pobre que seja, até mesmo sendo escravo, se tiver talento, sabedoria e vontade, consegue mudar a sua condição para melhor. Não existe nenhuma barreira social, econômica, racial, que impeça isso.


- que durante a escravidão no Brasil muitos negros não foram escravos (como os 14 filhos de Chica), e dentre os negros livres, muitos deles tiveram escravos negros.


Historiadores brasileiros de meados do século XX para cá, a maioria deles esquerdistas e propensos a criarem mitos que satisfaçam as suas "lutas" ideológicas criaram em torno de Chica da Silva uma personalidade que ela nunca teve, infelizmente essa ação ideológica distorceu o que ela realmente foi - uma escrava que se tornou uma dama da elite mineira.

Obs.Pinturas de Chica da Silva não existem, não se sabe como eram sua fisionomia, porisso não foram colocadas fotos dela.




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