10 de outubro de 2012

Os nomes das ideologias que embalam a ilusão humana de criar um paraíso terrestre mudam mas a utopia continua a mesma, a mais recente é o anarco-capitalismo, só mais um tipo de total ausência da realidade empírica.



Um membro da comunidade do ORKUT "Marx é inquestionável?!" colocou no tópico "Anarquismo" o link a seguir:

http://tempossafados.blogspot.com.br/2012/05/o-homem-que-vendera-o-mundo.html

Onde encontramos o seguinte texto:

"O homem que venderá o mundo

Existe um teórico político pouco conhecido do público brasileiro que defende com unhas, dentes e dólares uma espécie de conciliação entre o liberalismo e o anarquismo. Este homem se chama David Friedman. É doutor em Física, professor de Direito pela Universidade de Santa Clara na Califórnia e filho do economista Milton Friedman (um dos líderes da Escola de Chicago, cujo trabalho influenciou os governos de Nixon, Reagan e Pinochet). A obra mais conhecida de David Friedman se chama “As engrenagens da liberdade” (escrita em 1973), na qual o autor advoga em favor do libertarianismo ou anarco-capitalismo, ideologia que cresce exponencialmente nos EUA, e que já possui alguns adeptos aqui no Brasil. Neste post, tentaremos abordar algumas ideias do teórico sobre seu projeto de organização sócio-política.

É muito comum a afirmação, entre os historiadores, de que o anarquismo moderno nasceu entre (e pela crítica do) o liberalismo e o socialismo. Entretanto, a reivindicação do título de anarquista por D. Friedman não admite (pelo menos explicitamente) nenhum débito com os movimentos sociais, nem com os autores clássicos dos séculos 19-20 (Proudhon, Bakunin, Kropotkin e Malatesta). Pelo contrário, o teórico se diz herdeiro da tradição liberal radical de Adam Smith, Hayek e de seu pai, Milton Friedman. 
A defesa do anarquismo de direita se apoia num ponto comum do anarquismo de esquerda: a abolição do Estado em favor do autogoverno (ou governo auto gestionário). 
Podemos dizer que ultrapassa, portanto, o “Estado mínimo” de Smith, por caracterizar uma fase “pós Estado mínimo”, algo que o próprio Smith já havia mencionado como “objetivo último” da sociedade do laissez-faire. 
Para Smith, o Estado desapareceria após ter cumprido suas tarefas de estruturação física para o funcionamento completo do mercado, entendido não somente como troca de mercadorias, mas também como relação de comunicação entre os homens e como modo imediato de acesso à política. 

Ou seja, a política seria substituída pela economia, algo que já podemos perceber nas relações políticas institucionalizadas do capitalismo contemporâneo, onde as decisões são tomadas somente para adequarem às demandas do mercado.

Embora defenda com vigor a economia capitalista, Friedman (imagem à direita) faz críticas precisas aos governos e as políticas intervencionistas do capitalismo. 
Assim, o autor escreve sua apresentação: “Eu acredito [...] que todos têm o direito de viver a própria vida, de irem ao inferno à sua própria maneira. 
Concluo, como muitos esquerdistas, que toda censura deveria ser abolida. 
Que as leis contra as drogas, sejam elas a maconha, a heroína ou o Remédio Milagroso Contra o Câncer do Dr. Falcatrua, deveriam ser repelidas. 
E também as leis que obrigam os carros a terem cintos de segurança. O direito de controlar minha vida não significa o direito de ter livre tudo o que quero; a única maneira de fazer isso seria obrigar alguma outra pessoa a pagar pelo que recebo. 
Como todo bom direitista, eu me oponho aos programas de bem-estar social que sustentam os pobres com dinheiro tirado à força dos contribuintes. 
Também me oponho às tarifas, subsídios, empréstimos garantidos, renovação urbana, preços mínimos para produtos agrícolas, em suma, todos os muito mais numerosos programas que sustentam os não-pobres, e quase sempre os ricos, com dinheiro tirado à força dos contribuintes, quase sempre dos pobres” (FRIEDMAN, 1973, p. 8).

Smith acredita que o Estado deve possuir apenas três funções:
defender a sociedade da violência ou invasão de outras; 
proteger cada membro contra a opressão e injustiça de outro, tendo uma administração exata da justiça; 
e manter obras públicas que o interesse privado não faria. 

Mises, outro teórico do liberalismo, advoga que o Estado deve somente garantir a segurança interna e externa. 

Já para Friedman, o Estado só é útil (e um mal necessário) para defender um país de outro em caso de guerra. 

Mas, esta situação será passageira, pois assim que o anarco-capitalismo estiver universalizado não haverá mais nações, nem controle de imigrações.

E as outras funções atualmente exercidas pelo Estado, como polícias, tribunais e leis? 
A resposta é o mercado. 
Com a abolição do governo, estes serviços passariam a ser do cargo de empresas privadas. Tudo seria vendido! 
As próprias leis seriam vendidas no mercado através das agências de proteção (que fariam a segurança interna, prevenindo os crimes e protegendo os cidadãos) e os tribunais privados julgariam as divergências entre empresas e o conflito entre os cidadãos. 
Friedman diz que este serviço seria mais eficiente e mais barato do que o que Estado cumpre. 
Os cidadãos só comprariam as leis que julgariam indispensáveis para sua vida, por isso, a tendência para uma sociedade libertária seria muito grande.

Aliando anarquia e capital, os projetos sócio-políticos de Friedman me parecem extremamente frágeis, sobretudo por não levar em conta a antiética dos empresários envolvidos no mercado de leis e seus consumidores (mais ricos ou astutos). Tampouco, a concorrência (não raras vezes) nada saudável entre empresas do mesmo ramo. Aliás, ele até toca neste assunto, mas diz que uma disputa violenta entre as empresas as levariam a perderem lucros, o que não é bom para nenhuma, então, razoavelmente, resolveriam as desavenças com acordos mútuos. 
O autor ainda reitera que uma empresa inescrupulosa seria naturalmente rejeitada pelos consumidores, indo à falência. 
Mas, desconsidera a rede de interesses presente nas informações sobre tal empresa, divulgadas pela imprensa, por exemplo. Assim, não seria raro o ataque midiático às empresas éticas para desqualificá-las em prol das que financiassem esse “serviço bacana”.

Friedman admite que haveria um sério problema caso as agências de proteção resolvessem orquestrar uma espécie de golpe de Estado (sem Estado) e tomar o poder político através da seu poderio bélico. 
Por isso, discorda do desarmamento da população, neste caso, é preciso que os cidadãos tenham armas e queiram usá-las. Contudo, adverte que a possibilidade disto acontecer seria menor conforme o número de agências de proteção (e é bastante otimista quanto a isso). 
De todo modo, atualmente a polícia e o exército podem fazer o mesmo, mas porque não fazem? 
O autor afirma que tais pessoas acreditam ter um senso de justiça extremo, por isso possuem uma ética que as impedem de fazerem o que consideram errado. 
Creio, piamente, que Friedman não conhece a polícia brasileira, caso contrário, voltaria atrás neste argumento.

O autor crítica o socialismo porque não permite um conflito de interesses e não respeita a pluralidade do pensamento humano; pois, embora o anarco-capitalismo não queira fazer do conflito uma regra, possibilita sua existência e o encontro de uma solução. 
Os acordos de cooperação são espontâneos, decididos entre dois ou mais indivíduos através de um contrato acordado. 
Friedman também ataca o “Estado mínimo” porque universaliza as leis tentando uniformizar as opiniões e as ações, neste caso, o mercado de leis seria mais propício para atender as “imperfeições” das pessoas. 
Além disso, o “Estado mínimo” é ilusório, porque não tem uma medida exata do que é “mínimo” e do que é “dispensável”; logo, seu poder coercivo aumenta como aconteceu na história política das federações estadunidenses.

Por último, Friedman aponta as estratégias para um partido libertário. 
Aqui ele quebra um dogma do anarquismo de esquerda, que é a ausência e a negação de partido. 
O papel do partido libertário anarco-capitalista se difere dos outros, pois ao chegar ao poder político, quer eliminar ou diminuir drasticamente o governo. Contudo, esta tática de disputar as eleições procura muito mais disseminar as idéias libertárias do que vencer a concorrência (as derrotas serão importantes). 
O partido possui um objetivo ideológico de disseminar seu conteúdo inclusive aos outros partidos, que adotarão as idéias libertárias após perceberem que estas despertam simpatia junto aos eleitores. 
Com o amadurecimento, um dia, um libertário legítimo ficará à frente das decisões políticas e os cidadãos-comuns estarão frente a frente com o homem que venderá o mundo; assim, como na canção de David Bowie (vídeo abaixo)."


Comentários:

Um texto legal este do blog !
Fazia tempo que eu não lia algo assim.

Vou escrever uma "introdução" e depois vou separar alguns trechos com as idéias de Friedman e comentar.

O anarquismo, seja ele o moderno ou o antigo, e o socialismo seja ele qual for, são utopias, ilusão, são ausência de realidade humana e da natureza.
Não existe, na minha opinião, nada melhor que o liberalismo, o liberalismo que Mises propunha, ou o de Smith sem a terceira condição das obras públicas.

Como já coloquei no meu estudo sobre as origens do socialismo (e do anarquismo) e do liberalismo, o socialismo e o anarquismo tem como premissa básica a loucura criada (ou propagada) por Rosseau, de que "o ser humano é bom por natureza".
Isso é uma das "filosofias" mais estúpidas que humanos já pensaram.
Não que os seres humanos sejam maus...
Não se trata disso.
Os humanos são - animais.
E os animais são conduzidos por uma força descomunal que domina seu corpo e mente, seja ela a mente de um coelho ou a mente de um humano - o desejo sexual.
Essa é a força maior que conduz os destinos dos humanos, e não a razão ou a ética.
E para satisfazer esse desejo os humanos trapaceiam de todas as formas possíveis e inimagináveis, e matam quando for necessário.

Os humanos para piorar a situação tem uma outra força, também grande, que o restante dos animais não tem - o medo da morte.
A aquisição da consciência deu de presente para os humanos, conforme Sartre esclareceu, a angústia de viver e saber que vai morrer.
A certeza da morte em contrapartida ao desejo de não morrer, para piorar ainda mais as coisas, deu origem a variadas formas ilusórias de "vida eterna".
As religiões foram/são o mecanismo encontrado pelos humanos para almejarem a possibilidade de terem "vida eterna".

Essa ilusão no mundo atual virou neurose e se manifesta de diversas formas, desde a "nobre tarefa" de "proteção dos animais", passando pela "purificação" do vegetarianismo até a heróica tarefa de "salvar o planeta", o desejo escondido nas profundezas do subconsciente destas pessoas é a "sublimação da alma", a prática de "ações mais elevadas", com isso, também a nível do subconsciente, tais pessoas almejam o prêmio da "vida eterna" por "serem bons e elevados".

Então, em virtude destas duas forças, por exemplo, um grupo numeroso de humanos em um transatlântico turístico de luxo viajando pelo Mediterrâneo, se relacionam na mais perfeita harmonia pensando apenas em se divertir, porém.... se o navio bate em uma pedra e começa a afundar, as gentis pessoas do navio se transformam em bestas que atropelam e pisoteiam até crianças e grávidas para chegarem primeiro aos botes salva-vidas...
Esta é a realidade humana.
É este o ser humano nos subterfúgios do subconsciente.

Em síntese, os humanos não são bons nem ruins, eles apenas estão vivendo sob as condições emocionais e de perigo eminente e constante que o bondoso deus impôs aos seus filhos, ou falando mais seriamente, que a natureza impôs aos seres vivos.

E como a sociedade humana é dependente da ação humana, ela está totalmente sujeita a essa violência inerente ao próprio Universo.
Desconsiderar este fato e supor que uma sociedade possa existir sem um instrumento possuidor de poder para conter essa violência é uma utopia, uma ilusão.


Vamos agora comentar trechos da ideologia de Friedman.

"o Estado desapareceria após ter cumprido suas tarefas de estruturação física para o funcionamento completo do mercado, entendido não somente como troca de mercadorias, mas também como relação de comunicação entre os homens e como modo imediato de acesso à política."

Anarquistas atuais estão colocando intenções em textos de liberais que eles não tiveram...

Mas, como, de que forma, seguindo qual método, o estado desaparecerá ?
Quais são as premissas empíricas que conduzirão esse processo ?
Elas foram testadas cientificamente ?
Como isso pode existir se a mente humana não é dominada pela razão, mas sim, pela emoção, pela ânsia por sobreviver e pelo desejo sexual ?
A economia, o mercado, é apenas um meio.
Os humanos não fazem comércio porque gostam de comerciar!
Os humanos o fazem para obterem dinheiro para com ele satisfazer os desejos fundamentais de sobrevivência e sexo.
Jamais, em situações críticas, o mercado determinará a relação social entre humanos.

"onde as decisões são tomadas somente para adequarem às demandas do mercado."

Isso é extrema utopia.
Isso existe apenas na cabeça daqueles que não possuem o menor bom senso, daqueles que não possuem a menor noção da realidade humana.
Um chefe de governo não toma decisões em função do mercado, ele toma decisões em função dos seus desejos pessoais.
Cesar e Marco Antonio não tomaram decisões em função do comércio com o Egito, tomaram decisões em função da beleza e do sexo que Cleopatra lhes proporcionava.
Clinton sentado na cadeira de presidente da maior nação do mundo pensava na sua estagiária, e Kennedy também tinha o sexo como seu maior motivador, e assim é com todos, poderosos e não poderosos.

"pois assim que o anarco-capitalismo estiver universalizado não haverá mais nações, nem controle de imigrações."

Esta é outra utopia estúpida.
Marx disse que os "proletários" não tinham pátria e que eles iriam se unir contra os "burgueses", os estúpidos seguidores de Marx em vista dessas palavras proféticas esperavam que na Primeira Guerra Mundial quando os proletários estivessem com as armas nas mãos se rebelassem e se unissem contra suas respectivas nações.
É claro que isso não aconteceu e jamais acontecerá, o amor a terra em que nasceu e a nação a que pertence é algo muito forte no ser humano.
Os japoneses jamais deixarão de ser japoneses, idem para qualquer outro povo.

"As próprias leis seriam vendidas no mercado através das agências de proteção (que fariam a segurança interna, prevenindo os crimes e protegendo os cidadãos) e os tribunais privados julgariam as divergências entre empresas e o conflito entre os cidadãos."

Como alguém poderá se prevenir do estupro de uma filha por um tarado qualquer ?
Todos teriam de comprar essa lei ?
Uma vez que todos estão sujeitos a passar por essa fatalidade.
Os tribunais privados, em sendo privados, almejariam lucro... como seria a harmonização desse desejo primordial de uma empresa privada com a justiça ?

"Os cidadãos só comprariam as leis que julgariam indispensáveis para sua vida, por isso, a tendência para uma sociedade libertária seria muito grande."

Os cidadãos também precisariam comprar uma bola de cristal para prever o futuro.
O estupro de uma filha é algo que se pensaria "essencial" ?
Acho que não...
Ninguém em sã consciência vai comprar uma lei supondo que a filha vai ser estuprada.
Mas, isso é uma possibilidade.

"sobretudo por não levar em conta a antiética dos empresários envolvidos no mercado de leis e seus consumidores (mais ricos ou astutos)."

Exatamente!
Eu só faria uma correção, não são apenas os empresários que não tem ética, todos via de regra não tem, é por isso que existe a corrupção ativa e passiva.

"O autor ainda reitera que uma empresa inescrupulosa seria naturalmente rejeitada pelos consumidores, indo à falência."

O autor é muito inocente.
Empresas inexcrupulosas podem também serem competentes e muito aceitas pelos consumidores.
Os jogadores do melhor time do mundo não são virtuosos, eles praticam toda sorte artimanhas inexcrupolosas para ganharem as partidas e obterem o aplauso dos consumidores.

"Por isso, discorda do desarmamento da população, neste caso, é preciso que os cidadãos tenham armas e queiram usá-las."

Mais uma demonstração de total ausência da realidade empírica!
Os cidadãos precisaram ter metralhadoras e tanques em casa e mesmo assim jamais conseguiriam derrotar um exército.
Alem de que, e mais importante, o próprio autor demonstra não ter confiança nessa sociedade anarco-capitalista e desconfia das próprias instituições que quer instituir e acredita no último recurso das armas.
Uma enorme contradição!

"Os acordos de cooperação são espontâneos, decididos entre dois ou mais indivíduos através de um contrato acordado."

E quem irá garantir o cumprimento desse contrato ?
Uma empresa ?
E se essa empresa fizer um acordo financeiro com uma das partes ?

"Com o amadurecimento, um dia, um libertário legítimo ficará à frente das decisões políticas e os cidadãos-comuns estarão frente a frente com o homem que venderá o mundo; assim, como na canção de David Bowie (vídeo abaixo)."

E para terminar a suprema ilusão de que um ser superior, tal qual a esperança da vinda do Messias, nascerá na Terra e trará para a humanidade o reino da felicidade tão sonhado pelos humanos.

                                   ***





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