Em sua coluna de hoje na Veja Rodrigo Constantino
escreveu um artigo com o título:
A
escolha da vida: as lições de Rasselas, o Príncipe da Abissínia. Ou: Voltaire x
Samuel Johnson
O texto é interessante e vou coloca-lo a seguir.
E também vou colocar o comentário que fiz.
Texto
do artigo:
O
terremoto de 1755 abalou muito mais do que construções lisboetas; colocou em
xeque várias crenças e abalou a confiança de muita gente no futuro e em Deus.
No mesmo ano de 1757, dois livros similares na forma, porém com diferenças
essenciais na mensagem, foram publicados.
Um
deles por Voltaire que, com seu Cândido, zombou do otimismo de seguidores de
Leibniz, que acreditavam que este era sempre o melhor mundo possível. O outro
por Samuel Johnson que, com seu Rasselas, O Príncipe da Abissínia mergulhou nas
questões do sentido da vida.
Enquanto
Voltaire apelou ao sarcasmo, tentando ferir com uma espécie de revolta juvenil
aqueles que procuravam opções metafísicas para obter algum consolo em uma vida
aparentemente sem sentido e repleta de desgraças, Johnson preferiu uma conversação
mais elevada, demonstrando uma sensibilidade que me parece bastante superior.
Para
começo de conversa, se o personagem principal de Voltaire foi expulso do
castelo a pontapés e só aí iniciou suas aventuras, o Rasselas de Johnson, que
vivia em um “vale de alegrias” como um príncipe, com todas as necessidades
supostamente atendidas, resolveu sair por conta própria para conhecer o mundo
em busca de sentido. Sentia-se aprisionado mesmo com todos os apetites saciados
e com farta diversão diária.
As
angústias eram interiores, um estado de espírito constante, um alerta do autor
para aqueles que esperam encontrar a perfeição, a felicidade plena, algo que
simplesmente não nos foi dado como alternativa. Voltaire parece gritar com o
“mundo” ou com Deus por todas as nossas agruras e sofrimentos, enquanto Johnson
parece adotar uma postura de maior resignação e aceitação dos sofrimentos
inevitáveis da vida humana.
Rasselas
viaja por vários países e conhece inúmeros estilos de vida diferentes. Em
alguns casos, ele realmente parece acreditar ter encontrado a resposta para a
felicidade. Mas logo depois se dá conta de que não era bem assim, que as
aparências enganam, que a realidade era mais trágica. Estamos fadados a uma
sensação de insatisfação crônica, a sempre ansiar por mudanças, por algo que
não temos. É o que nos move.
Quando
Rasselas visita as pirâmides do Egito, conclui que foram feitas como monumento
a essa eterna insatisfação humana, como prova de que nunca ninguém terá tudo de
que precisa ou aquilo que deseja, sendo levado até mesmo a sacrificar vários
escravos em trabalho árduo apenas para atender seus caprichos fúteis.
Os
diálogos são muito interessantes, e há o confronto entre diferentes opções de
vida. O casamento com dores ou o celibato sem prazer, a juventude ou a velhice,
ter filhos mais cedo ou mais tarde, a reclusão intelectual ou a busca por
diversão na companhia dos outros, a vida humilde campestre ou no luxo das
cidades. Em cada alternativa, um problema diferente. Não há uma única escolha
certa e perfeita.
Um
sábio parece oferecer uma receita quase mágica, pois garante que é possível
domar as emoções com o uso da razão, e realmente demonstra ter pleno controle
das suas. Rasselas fica muito impressionado, e decide consultar mais vezes o
sábio, que aceita, sorridente, o ouro pago como recompensa pelo príncipe.
Até
o dia em que Rasselas o encontra desolado, em um estado de espírito sombrio.
Havia perdido sua filha preferida, acometida por uma febre. Mas e aquela
conversa de controle das emoções com base na razão? O sábio reconhece que é
impossível ser confortado por qualquer argumento racional em um momento
daqueles, e Rasselas decide partir. Era um falso profeta, era apenas um homem
comum, como todos os outros.
Em
suas várias experiências, ele encontrou obstáculos à felicidade, viu a inveja,
o rancor, a futilidade. Quando se uniu a um grupo jovem, sentiu-se revigorado,
com mais energia, entorpecido pelo dia a dia mais leve e solto. Até perceber
que aquilo também era extremamente limitado, que seria ridículo manter um
estilo de vida assim no futuro. Seus risos eram sem motivo, seus prazeres eram
grosseiros e sensuais, e Rasselas logo ficou enjoado daquilo.
Em
suma, Johnson, tido como um dos homens mais sábios e virtuosos de seu tempo,
não oferece fácil conforto ao leitor, nem uma receita única para a felicidade.
Mas tampouco ridiculariza aqueles que tentam encontrar alguma paz de espírito
em crenças metafísicas, diante de um mundo que pode ser bem trágico.
Andamos
em uma corda bamba, com uma natureza humana complexa, e podemos apenas tentar
fortalecer nossas virtudes e evitar certos vícios, mas não devemos esperar
grandes apoteoses ou um controle total de nosso destino. Concordo com a análise
comparativa que Theodore Dalrymple faz de ambas as leituras e autores: Johnson
parece estar em um estágio mais amadurecido do que Voltaire. Sua reação ao
mesmo fenômeno trágico demonstra isso.
Em
tempo: o livro foi escrito em apenas uma semana para pagar os custos do funeral
de sua mãe. Obra de um verdadeiro gênio!
Meu
comentário:
Felicidade e sentido da vida.
Um condenado a morte no corredor da morte tem alguma
chance de ser feliz?
Acredito que não, pedem para escolher o que quiser
na última refeição, escolhe, mas come sem prazer, pois sabe que daqui a pouco
vai morrer.
É isto que atormenta os humanos, saberem que vão
morrer, não com data marcada como o condenado, mas, a certeza que vão morrer
tem.
E essa certeza impede a felicidade.
Minha cachorra é feliz, entre outras coisas quando
acaba de fazer cocô, vem em desabalada corrida muito alegre, com a felicidade
estampada no rosto, ela não é feliz todo o tempo é claro, mas, com certeza ela
vive tranquila todo o tempo pois não sabe que um dia vai morrer.
Se livrar do medo da morte é a porta de entrada para
a serenidade e para momentos de felicidade.
E como se consegue isso?
Se consegue isso olhando para a vida.
As tartarugas põem ovos na praia, milhares, quando
nascem saem todas as tartaruguinhas correndo para o mar, mas o trajeto é trágico,
aves as devoram aos milhares, das milhares que nasceram apenas algumas poucas
chegam ao mar e sobrevivem.
Os peixes também são assim, em um esforço tremendo
sobem o rio para desovar, desovam e morrem, os ovos também são milhares, mas,
se perdem comidos ou perdidos, poucos dão origem a novos seres, que ainda
pequenos são comidos pelos maiores.
Os homos também foram assim, existiram dezenas de espécies
homo, foram extintas porque não resistiram a matança, a última delas foram os
neandertais a 12 mil anos atrás, os sapiens só não foram extintos por sorte,
estiveram a beira da extinção com apenas poucos indivíduos vivos segundo estudo.
Na atualidade morrem com apenas 1 dia de vida 1
milhão de humanos por ano... somos descartáveis como as tartaruguinhas.
Isso tudo é tão claro... os indivíduos não tem valor
algum a não ser manter viva a espécie a que pertencem, nem de seus corpos são
donos, a espécie é a dona. É ela o ser vivo... evoluindo.
Tomar consciência desse fato é a chave para se
livrar do medo da morte e viver com serenidade e por momentos ser feliz.
Quem não se
conscientizar dessa realidade, se negar a aceitá-la - sofre continuamente.
***
Nenhum comentário:
Postar um comentário